Vamos falar sobre as quedas no Ibovespa.
O Ibovespa
iniciou em 1968, sendo que até 1994 tínhamos altas e quedas expressivas unicamente pela
hiperinflação, então vamos falar depois do Plano Real.
Uma queda forte significa quedas no total superiores a 40% entre a máxima e a mínima.
Vocês verão que chegamos a 5 momentos de queda superior a esse percentual, sendo
a mais curta em 2008, em que tivemos apenas uma pernada para baixo, e a mais longa foi
a da recessão recente em que a Bolsa caiu por quatro anos.
Veremos ainda que as quedas não são lineares. As quedas são realizadas em ondas (uma
queda forte, uma alta menor, outra queda forte, uma nova alta menor e assim
sucessivamente até inverter). Alguns períodos de alta são tão grandes que acabam nos
enganando quanto ao final da crise.
PRIMEIRA QUEDA – 1997 A 1998
Logo após o início do Plano Real, em 1994, a Bolsa teve uma alta muito forte. O fim da
hiperinflação e a paridade cambial “colocou” dinheiro no bolso dos consumidores e dos
empresários, que foram às compras. Nesse momento, começou a aumentar o comércio
externo brasileiro também. E foi esse comércio externo que deflagrou a primeira crise.
Em 1997, tínhamos várias lojas espalhadas pelo grandes centros. A idéia do “Dollar Dream”
já estava no inconsciente das pessoas. Agora, sem viajar para o exterior você poderia
comprar itens de 1 dólar por apenas 1 real. Nos locais mais pobres havia as lojas
de R$ 0,99.
Grande parte desses itens vinha de países asiáticos. A economia da China nessa época
ainda era pequena, e quem destoava eram os tigres asiáticos: Cingapura, Taiwan, Hong
Kong e Coreia do Sul.
Em 1997, tivemos a crise dos tigres asiáticos. As indústrias nacionais, que passaram três
anos sem conseguir competir com aqueles preços, já não conseguiam produzir produtos
com a mesma eficiência. Muitas estavam abertas a duras penas sem realizar investimentos.
Em 1998, um golpe mais forte ainda. A crise do calote russo. A Rússia deixou de pagar
suas dívidas e, embora o Brasil não fosse credor da Rússia, o dinheiro saiu de forma tão
forte de qualquer país emergente, assim como do Brasil, que ficou difícil para o Brasil
manter a paridade cambial em 1 dólar para 1 real. Usamos uns modelos de bandas
cambiais em que a desvalorização ocorria aos poucos, mas em janeiro de 1999, já sem
reservas e altamente dependente do FMI, o Brasil adotou o câmbio flutuante e, para evitar a
saída de tantos dólares, jogou os juros para 41% ao ano.
O resultado foi o dólar saindo de cerca de R$ 1,20 para R$ 2,10 em menos de uma
semana.
Veja, no gráfico abaixo, como a Bolsa se comportou.
ONDAS VARIAÇÃO TEMPO (DIAS ÚTEIS)
1 -46,44% 90 dias úteis
2 63,24% 110 dias úteis
3 -62,89% 106 dias úteis
Total -67,41% 306 dias úteis
Veja, na tabela acima, que a maior queda foi a que ocorreu em 1998 após o calote russo,
ou seja, quando a economia já estava debilitada. A desvalorização cambial de 1999 não fez
a Bolsa alcançar um nível tão baixo como o de 1998.
A crise durou 306 dias úteis (quase 15 meses) e a Bolsa perdeu 67,41%.
Quem investiu naquela máxima perdeu ⅔ do capital investido. Quem tinha R$ 30.000,00
perdeu R$ 20.000,00. Quem tinha R$ 3 milhões perdeu R$ 2 milhões.
Qual é o antídoto para não perder tanto?
Investir dinheiro nas quedas – durante as ondas 1 e 3 que vimos na tabela acima; evitar ao
máximo investir na onda 2.
SEGUNDA QUEDA - 2000 A 2002
A Bolsa teve uma alta surpreendente em 1999. Foram mais de 150% de alta recuperando
toda a queda anterior. A Bolsa ainda seguiu em alta até março de 2000, quando atingiu os
19.000 pontos pela primeira vez.
Sinais de euforia eram nítidos. Metas de inflação, política ortodoxa econômica pela primeira
vez na história brasileira, além da expectativa com o segundo mandato de Fernando
Henrique Cardoso. Afinal o slogan dele era “o homem que acabou com a inflação vai agora
acabar com o desemprego”.
As empresas investiram, o Brasil reduziu custos taxando os inativos e entregou superavit
primário por muitos anos seguidos. Ficamos cada vez menos dependentes do FMI. Mas a
alta foi muito forte.
No exterior, em 2000, estouro a crise da empresas ponto.com; em 2001, tivemos o
racionamento de energia, o ataque terrorista às Torres Gêmeas, que reduziu o comércio
com os Estados Unidos, e em 2002, o que seria o “golpe final na recuperação brasileira”: a
eleição do Lula.
A eleição do Lula em 2002 era vista com muito pânico.As pessoas falavam que o Lula traria o socialismo ao Brasil, diziam que
iria acabar a propriedade privada, falavam que não adianta comprar ações na Bolsa, porque
após as eleições as empresas vão ser estatizadas mesmo.
Quanto maior o pânico, maior a recuperação posterior. E foi isso que ocorreu. De 2003 a
2007 tivemos o maior bull market deste século.
Vamos ver no gráfico sobre essa crise, mas o grande ensinamento aqui é que as pessoas
tendem a exagerar.
Exageram para cima quando tudo parece bem e exageram para baixo quando tudo parece
mal. Logo, atualmente a tendência é que exista uma precificação exacerbada para baixo
que nos trará uma maior rentabilidade no futuro.
ONDAS VARIAÇÃO TEMPO (DIAS ÚTEIS)
1 -29,72% 185 dias úteis
2 35,76% 40 dias úteis
3 -47,44% 165 dias úteis
4 51,93% 135 dias úteis
5 -43,41% 150 dias úteis
Total -56,97% 665 dias úteis
TERCEIRA QUEDA – 2008
Essa foi a queda mais curta, diferente dos países desenvolvidos, que demoraram mais para
se recuperar. O que é melhor: tirar um band-aid rápido ou devagar?
O ex-presidente da república, inclusive, se referiu à crise como uma “marolinha”, porque o
Brasil com crescimento dos gastos do governo e se aproveitando do baixo endividamento
após vários anos gerando superavit e reduzindo juros que o Brasil tinha.
Em 2010, o Brasil entregou o maior crescimento do PIB deste século. Uma alta superior a
7%, muito acima das previsões de 5% da época.
Nos Estados Unidos, durante o período de alta de 2003 a 2007, os imóveis se valorizaram
muito, e era normal o refinanciamento do imóvel. Funcionava assim.
A família padrão americana e fictícia “Smith” hipoteca a sua casa e paga as parcelas como
todos os americanos. A casa custava 200 mil dólares. Após dois anos, essa mesma casa já
estava valendo 400 mil dólares, e como a dívida da família Smith agora era de apenas 160
mil dólares, o Sr. Smith tem uma grande idéia: vamos realizar uma nova hipoteca da casa.
Ele sai com 160 mil dólares do banco e sua dívida sobe para 320 mil dólares, lastreado no
novo valor da casa. Depois de dois anos, a mesma casa já valia 700 mil dólares,
e o Sr. Smith realiza a mesma operação saindo do banco com algum dinheiro para gastar
no consumo.
A economia americana cresceu muito e os bancos precisavam de mais dinheiro para
conceder tanto crédito que era requisitado. Assim, tiveram uma brilhante ideia: empacotar
todos esses contratos de centenas ou de milhares de famílias Smith e chamar com um
nome bonito (American Real Estate High Yield Bonds, por exemplo). A diversificação em
vários contratos garante a segurança da operação. Vende no mercado para pessoas físicas,
instituições ou para os hedge funds.
Em 2008, o preço dos imóveis despencou, e a casa da família Smith que valia 700 mil
dólares caiu de volta para 250 mil dólares. No entanto, o Sr. Smith devia mais de 500 mil
dólares para o banco. Logo, o valor atual da garantia era inferior ao valor da dívida.
Centenas de milhares de contratos foram marcados a menor, e estes bonds (aqueles
créditos que foram empacotados), passaram a ser conhecidos como “junk bonds” (“títulos
podres” em tradução livre).
As inúmeras famílias Smith foram despejadas. Os bancos tentaram vender em massa esses
ativos pelo maior valor possível para recuperar o máximo valor possível. Claro que com
muita oferta e pouca demanda, os preços dos imóveis caíram mais ainda. Aquele imóvel da
família Smith poderia ter facilmente sido arrematado em um leilão a 125 mil dólares. Valor
menos que 20% inferior aos 700 mil dólares do ano anterior.
Como esses bonds foram alocados em fundos que investiram ao redor de todo o globo nos
dois anos anteriores, essa bolha trouxe problemas para todos os países. No Brasil, vimos
uma redução do Ibovespa superior a 60% entre a máxima em maio de 2008 e a mínima em
outubro de 2008.
ONDAS VARIAÇÃO TEMPO (DIAS ÚTEIS)
1 -60,33% 110 dias úteis
Total -60,33% 110 dias úteis
QUARTA QUEDA - 2012 A JANEIRO/2016
Aquela política de aumento de gastos públicos, aumento de crédito para as famílias, com
maior endividamento das pessoas gerou uma supervalorização de alguns ativos, como
imóveis em grandes cidades. Imóveis no Rio de Janeiro e em São Paulo chegaram a
triplicar de valor em cinco anos.
A política econômica começou a deixar de lado metas de inflação e, mesmo com a
economia aquecida e menores níveis de desemprego, apesar do aumento de salários acima
da inflação e apesar do aumento da renda do trabalhador, os estímulos à economia
continuavam a ser implementados na economia.
Em outra frente, grandes empresas escolhidas pelo governo e alinhadas com a política da
“Nova Matriz Econômica” eram escolhidas para receber empréstimos subsidiados abaixo da
taxa de captação do Tesouro Nacional.
Funcionava assim: o BNDES emprestava para a JBS um valor com taxa de 4,5% ao ano
(via TJLP). O Tesouro Nacional captava a 7,25%. Então, é como se o povo brasileiro
tivesse financiando com seus impostos essa diferença. Depois descobrimos que existiram
escândalos de propina e suborno para as empresas “escolhidas”. Ou seja, a diferença nem
ia para a empresa, mas eram desviadas do país e das contas públicas. Isso ficou claro no
dia 17/05/2017, quando houve o circuit breaker do vazamento do áudio do Joesley Batista.
O mercado, como sempre, se antecipou e já imaginava que essa história não acabaria bem.
Desde 2012 a Bolsa começou a cair e aos poucos a economia não conseguia mais crescer.
Em 2014 o crescimento foi de apenas 0,1%. 2015 e 2016 tivemos uma recessão forte com
quedas de 3,3% a cada ano. Mesmo com a contração econômica, a inflação alcançou
10,4% em 2015, e o Brasil estava com sérios problemas. Alguns que não foram corrigidos
até hoje, como o déficit primário, ou o alto desemprego, por exemplo.
Essa foi uma crise que foi se desenhando aos poucos e os indicadores econômicos foram
decaindo ao longo do tempo. A partir de 2014 a perspectiva de risco cresceu mais e o dólar
subiu de R$ 2,10 para R$ 4,00 ao final de 2015. A crise possivelmente seria mais
prolongada se não tivesse havido o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Veja, abaixo, a queda total. Embora menor em intensidade, maior em termos de tempo.
O que acaba custando mais para os investidores de longo prazo.
1 -24,66% 95 dias
2 21,74% 117 dias
3 -30,90% 128 dias
4 40,79% 305 dias
5 -26,80% 75 dias
6 27,84% 100 dias
7 -27,26% 80 dias
8 16,81% 30 dias
9 -25,60% 75 dias
Total -46,42% 1.005 dias
Como podemos ver na tabela acima, o Brasil passou por uma queda total de 46,42% por
quatro anos. ou 1.005 dias úteis. Enquanto isso, o índice americano S&P 500 neste mesmo
período subia de valor. Veja a imagem abaixo.
Vemos que o S&P 500 subiu quase 80% nesse período, saindo de 1.200 pontos em 2012
para 2.100 pontos em 2016. Esse descolamento que tivemos do mundo é o que me faz
imaginar que essa foi a crise mais sofrida para os investidores e para o povo brasileiro.
Quando o mundo todo está em declínio, é muito difícil o Brasil crescer, mas quando o
mundo todo cresce nós precisamos aproveitar, como ocorreu de 2003 a 2007, e como
perdemos de 2012 a 2016. Aproveitamos depois, de 2016 a 2019.
QUINTA QUEDA - 2020 (ATUAL)
Até o momento, essa queda se assemelha com a de 2008, mais rápida em apenas um mês,
mas com menor intensidade (queda de 48% x 60% em 2008).
Uma queda única e forte é o que vemos até o momento, mas ainda podemos ter novas
quedas que façam o Ibovespa cair abaixo de 61.000 pontos. Já vimos que em crises
quedas superiores a 30% são normais.
Na primeira queda, de 1997 e 1998, a Bolsa caiu 46% e depois subiu 63%, antes de cair
67% de novo.
Na segunda queda, de 2000 a 2002, a Bolsa caiu na primeira onda 29% antes de subir 35%
na segunda onda.
Na quarta queda, de 2012 a 2016, a Bolsa caiu 30,9% na terceira onda antes de subir 40%
na segunda onda.
Vejam que a subida é maior que a queda, embora o Ibovespa tivesse continuado em
tendência de queda
Atualmente tivemos uma queda de 48,76% em 40 dias úteis, de janeiro 2020 a março de
2020. Desde a queda já recuperamos apenas 33% em 20 dias. O normal seria a Bolsa
alcançar algo entre 50% e 55%, antes de cair de novo. Isso significa a Bolsa subir rápido
até 92.000 a 96.000 pontos nas próximas semanas.
A grande questão é:
1. Não sabemos se teremos uma onda única como em 2008 ou ondas múltiplas como
nas outras;
2. Esperar ultrapassar 100 mil pontos para voltar a comprar e ter um pouco mais de
certeza que não teremos nova tendência de baixa fará você perder muito dinheiro
caso não caia;
3. A Bolsa pode cair antes de atingir os 92.000 pontos. A história nos dá sinais e não
garantias;
4. Uma nova queda costuma ser maior que a primeira, o que poderia levar a Bolsa para
valores próximos a 48.000 pontos.
Temos algumas suposições, mas não temos certeza alguma do futuro.
Então, o que vou fazer:
● Comprar mais nas quedas;
● Realizar um aporte "pesado" se o Ibovespa cair de 60.000 pontos;
O momento atual não é de saber as boas ações, mas, sim, de gerenciar a carteira.
O momento atual não é de buscar retornos, mas, sim, de proteger a carteira para estarmos mais fortes no futuro, na retomada.
Foquem em S O B R E V I V E R!!!
Um BG!
Excelente post!
ResponderExcluirEstudar a história da bolsa nos ensina algumas coisas para o futuro e nos prepara melhor.
Embora todas as crises sejam diferentes, tem algumas coisas em comum.
Eu para me preparar para a bolsa brasileira estudei a historia das crises e das altas antes, isso me ajudou muito.
Abraço e bons investimentos!
Exatamente isso, nos prepara!!!
ExcluirUm forte abraço!!